Esta técnica surgiu no final do século passado a partir da necessidade de
exploradores franceses contratados para pesquisarem canyons e cavernas dos Pirineus
(cadeia de montanhas que separa o sul da França do norte da Espanha) e que se
deparavam com situações em que eram obrigados a transpor obstáculos como abismos,
cachoeiras e pontes. Daquela época até os tempos atuais, essa técnica vem sendo
aperfeiçoada, a medida em que novos e melhores equipamentos são desenvolvidos e
normalizados. O rapel, enquanto técnica, é utilizado basicamente por três esportes: a
escalada, a espeleologia (exploração de cavernas) e o canyoning (“rapel em cachoeiras”) e,
na área profissional, por militares e socorristas. Para nós, bombeiros, representa um meio
de acesso ou fuga de um local inóspito.
Rapel militar
O rapel pode ser feito com ou sem o uso de aparelhos. Em situações em que haja
uma pequena distância a ser vencida, em que não haja aparelhos disponíveis, o rapel
clássico ou militar pode ser efetuado através de uma laçada da corda em redor do corpo, de
modo que o atrito criado possibilite o controle da descida.
Rapel com aparelhos
Para a realização do rapel são necessários os seguintes equipamentos: corda,
mosquetão, descensor (freio oito, rack ou mosquetão), cadeira, luvas de proteção, autoseguro
e capacete .
Inserção do mosquetão na cadeira
Para o destro, segure o mosquetão na mão direita com o polegar no gatilho e
indicador no prolongamento do dorso, insira-o de cima para baixo girando-o até que a dobradiça fique voltada para si e a abertura para cima (o que facilitará a colocação do freio).
Se a cadeira tiver uma alça vertical (ao invés de horizontal), faça o mesmo, porém inserindoo
da esquerda para a direita, girando-o até que a dobradiça fique voltada para si e a
abertura para a esquerda e para cima.
Passagem da corda pelo freio oito
Com o oito clipado à cadeira pelo olhal maior, faça uma alça com a corda, mantendo
o chicote voltado para a mão de comando, passando-a de baixo para cima, em seguida abra
o mosquetão girando a peça oito 180º em sua direção, clipando-o novamente ao oito.
Passagem da corda pelo mosquetão (meia volta do fiel)
O mosquetão pode ser utilizado como freio através do nó meia volta do fiel .
Fixação do freio e travamento do mosquetão
Após a passagem da corda pelo freio, fixe-o à cadeira fechando e travando o
mosquetão, atentando para apenas girar a rosca da trava até encostá-la, sem aplicar força.
No caso do rack, ele já estará anteriormente conectado à cadeira através do mosquetão,
pois sua configuração permite a passagem da corda sem que seja necessário desclipá-lo da
cadeira.
Calçamento das luvas
O último passo da equipagem é o calçamento das luvas, sua utilização antes
comprometerá seu tato e maneabilidade.
Conferência e alerta ao segurança
Após completar a equipagem, cheque passo a passo cada ação repetindo em voz
alta:
Corda no oito !
Oito no mosquetão !
Mosquetão travado !
Luvas calçadas !
Segurança !
Segurança
Do solo, outro homem poderá dar segurança ao rapel. Para tanto, deverá manter-se
com as mãos à altura do tronco, sem luvas e olhando atentamente para cima, bastando
tesar a corda para, em qualquer eventualidade, interromper a descida e, se for o caso,
assumir o comando.
Execução do rapel
- O chicote da corda deverá estar afastado do solo, cerca de 50 cm;
- Antes de iniciar o rapel, confira seu equipamento e os procedimentos até então
realizados e alerte o segurança de solo; Atente para evitar a formação do nó boca de lobo durante a saída (quando utilizar oito convencional);Desde a saída e durante a descida mantenha a mão de comando sob a coxa, entre a rótula e a pelve. Enquanto a corda permanecer tesada (tensionada), o executante não descerá. A outra mão poderá ficar apoiada na corda, acima do oito, jamais sobre ele. As duas mãos trabalham em conjunto uma servindo de guia e apoio, outra no comando do
deslize;
O rapel não deve ser iniciado de um salto brusco, deve-se evitar freadas súbitas
durante a descida, a fim de que as ancoragens não sejam sobrecarregadas;
- O tronco deverá permanecer longe da corda (não fletido sobre ela), a cabeça, a roupa
e o cabelo longe das peças;
- Para manter uma posição estável, deve-se apoiar a planta dos pés na parede, em
uma posição semi-sentada, mantendo-se os pés afastados entre si;
se visar a direção de descida, olhando por cima do ombro da mão de comando,
de maneira a observar possíveis obstáculos durante o percurso (janelas, beirais, arbustos,
pedras);
- Aliviando-se a tensão do chicote, começaremos a deslizar e a descer, simplesmente
caminhando pela parede ou aos saltos;
- Ao chegar ao solo, flexione as pernas para facilitar a soltura do equipamento e a
liberação da corda e então saia debaixo da área de descida.
Travas
Existem vários tipos de travas que podem ser realizadas para interromper ou assegurar a
descida, entretanto, serão abordadas neste manual as mais usuais, simples e seguras. Há
diversas razões para se fazer uma trava, como a necessidade do bombeiro estar com as
duas mãos livres para realizar um procedimento, a conversão de um sistema de descida
para içamento, ou vice-versa, entre outras.
Trava do oito
Eleve a mão de comando, mantendo a corda tesada, fazendo uma trajetória circular
imaginária. Segure então a corda com a mão de apoio para completar a trajetória,
posicionando o chicote entre o vivo e a peça oito, puxando-o para baixo com as duas mãos
para realizar a primeira trava. Em seguida, faça uma alça passando-a por dentro do
mosquetão, repetindo a seqüência anterior, a fim de realizar uma segunda trava, finalizando
o procedimento.Para desfazer a trava, repita as ações em ordem contrária, prestando especial
atenção no momento de desfazer a última trava com segurança.
Trava do oito de resgate
Após realizar a primeira trava, conforme anteriormente descrito, ao invés de
passar o chicote pelo mosquetão, passe-o pelas orelhas para então executar a segunda
trava, finalizando o procedimento.
Trava do meia volta do fiel
Quando o mosquetão for utilizado como freio, realize a trava fazendo o nó de mula e
arremate com pescador simples.
Variações do rapel
Rapel positivo
Descida realizada com o apoio dos pés em uma parede.
Rapel negativo
Realizado sem o apoio dos pés, em vão livre.
Rapel auto-assegurado
Em situações em que não haja um bombeiro no solo para dar segurança ao rapel,
por exemplo, no caso do primeiro bombeiro a descer em um abismo, o próprio executante
pode fazer sua segurança prussicando a corda com um cordim ancorado à sua cadeira,
arrastando-o durante a descida, devendo estar atento para evitar o travamento indesejado e
preparado para retomar a descida, através de “auto-resgate”.
Auto-resgate
No caso do cordim travar inadvertidamente, o bombeiro poderá retomar o rapel de
duas formas: após efetuar a trava do oito, o bombeiro faz uma pedaleira instalando um
cordim para aliviar seu peso e liberar o cordim de seu auto-seguro ou faz uma azelha como
pedaleira, desfaz a trava e retoma a descida. Quando utilizar deste expediente, o bombeiro
deve atentar para fazer uma descida lenta e contínua, pois um rapel veloz irá queimar a
capa do cordim.
Rapel guiado
Utilizado para desviar de obstáculos a trajetória da descida. Para tanto, utilizam-se
duas cordas, uma para o freio (a de descida) e outra para a guia (corda simples solecada),
clipando a ela um mosquetão ou polia.
Rapel ejetável
Esta técnica diz respeito à forma de ancoragem que permite a recuperação da corda.
Utiliza-se este método em situações em que seja necessário recolher a corda para utilizá-la
em um outro lance de descida ou porque não seja razoável deixá-la no local, (empregada
em ambientes rurais e em cortes de árvore, por exemplo). Para este tipo de rapel, deve-se
permear a corda, fazer uma alça com um oito duplo ou nove em um dos chicotes e fixar um
mosquetão. Envolva então o ponto de ancoragem e clipe o outro chicote por dentro do
mosquetão. Ao término da descida, que deverá ser feita pelo chicote contrário ao que foi
feito o "nó", recolha o outro chicote.
Rapel debreado
Esta técnica refere-se a um tipo de ancoragem com um nó dinâmico (meia volta do
fiel), utilizada para gerenciamento de atrito, ou seja, em ambientes, normalmente rurais, em
que não seja possível proteger a corda em toda sua extensão, executa-se uma ancoragem
em um mosquetão com uma meia volta do fiel, bloqueado por nó de mula e arremate com
pescador simples, liberando-se um metro a cada descida. Desta forma a possibilidade de
sobrecarga de um único ponto é reduzida.
Rapel de helicóptero
Primeiramente, é necessário destacar algumas normas de segurança para operações
com aeronaves (helicóptero) :
- Jamais aproxime-se da aeronave pelo rotor (cauda);
- Desembarcado, mantenha-se sempre sob visão do piloto;
- Esteja com o capacete firmemente preso à cabeça;
- Aguarde o comando do piloto para embarcar na aeronave;
- Equipe-se para o rapel;
- Afivele-se ao cinto de segurança da aeronave; e
- Aguarde a indicação do tripulante para iniciar o rapel.
Os bombeiros deverão descer um de cada lado, em sincronismo, para evitar a
desestabilização da aeronave. Aquele que sai com o chicote pela sua própria mão de comando (destro, saindo pelo lado direito da aeronave) tem sua saída favorável, bastando
projetar-se para o lado externo da aeronave. No entanto, o bombeiro que sai pelo lado
oposto à mão de comando (o destro, que sai do lado esquerdo da aeronave), deverá, após a
passagem da corda pelo oito, ter a cautela de passar o chicote por baixo de suas pernas,
para evitar que ocorra a trava do oito . Para posicionar-se no esqui da aeronave, a mão de
comando já deve estar sob a coxa, mantendo a corda tesada. Coloca-se o pé sobre o apoio
intermediário do esqui e simultaneamente faz-se uma rotação de 90º, para em seguida
colocar o outro pé diretamente no esqui, ficando de frente para a aeronave. Já sobre o
esqui, deve-se manter uma abertura suficiente entre as pernas para dar estabilidade ao
bombeiro. Estando prontos, ambos deverão pagar corda até que pernas fiquem paralelas
ao solo para, simultaneamente, continuarem a descida flexionando os joelhos, até estarem
abaixo da aeronave, efetuando um pêndulo. Após a inversão, deverão tirar os pés dos
esquis da aeronave para então iniciarem a descida, em rapel negativo, de forma contínua e
sem freadas súbitas (trancos). Todos as ações devem ser simultâneas e sincronizadas, de
modo que ambos toquem o solo ao mesmo instante.
Próximo Capitulo ASCENSÃO
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