quarta-feira, 13 de julho de 2016

SALVAMENTO EM ALTURA Parte 4

ANCORAGENS
Considera-se ancoragem como o sistema de amarração ou fixação de uma corda ou
indivíduo a um ponto. Existem abordagens e linhas diferentes de execução, principalmente
em virtude da região e tipos de materiais empregados. De um lado, temos a linha européia
(ou alpina) cuja ênfase é dada a cordas mais leves e de menor diâmetro, em que as
ancoragens são feitas com base na divisão da carga entre dois ou mais pontos de fixação
(equalização), realizando tantos fracionamentos quantos sejam necessários, visando
preservar a corda. De outro lado, temos a linha americana, que dá ênfase a cordas de maior
diâmetro e resistência ao atrito, clipadas a ancoragens já existentes e robustas (um ponto “à
prova de bomba”), sanando-se as preocupações com o desgaste da corda através do uso
de proteções.

A abordagem deste manual levará em conta as duas linhas de trabalho, considerando
os pontos aplicáveis a cada situação peculiar e estabelecendo critérios mínimos que levem
em conta a segurança, a preservação do material e a funcionalidade de cada técnica.
De qualquer maneira, é primordial preservar a corda, através do uso de proteções!
 Sistemas de ancoragem
Para optarmos pela técnica e tipo de ancoragem a ser empregada em uma ocorrência,
devemos levar em conta os seguintes aspectos:
• Resistência dos pontos de ancoragem; e
• Localização dos pontos de ancoragem entre si.
Com base nesta avaliação, será adotado um dos seguintes conceitos:
• Ponto-bomba;
• Back-up; ou
• Equalização.
 Ancoragem à prova de bomba
O ponto “a prova de bomba” (PAB) é aquele escolhido para a realização de uma
ancoragem que, devido a sua grande resistência, dispensa qualquer outro sistema
secundário de ancoragem de segurança.
Sendo assim, ao utilizarmos um “Ponto-Bomba”, qualquer reforço, ancoragem de
segurança ou back-up, se tornará obsoleto, pois a resistência do ponto de ancoragem é superior à resistência de qualquer outro componente do sistema de ancoragem e, a seu
respeito, não paira qualquer dúvida sobre sua resistência. Ao encontrarmos um “pontobomba”,
partiremos para a confecção de uma ancoragem simples utilizando fitas tubulares,
mosquetão, cordins e cordas.
Equalização
Em situações em que não haja um ponto único suficientemente seguro (PAB) ou em
que o posicionamento do ponto existente seja desfavorável ao local em que desejamos que
nossa linha de trabalho seja direcionada, podemos lançar mão da equalização.
A técnica da equalização consiste em dividir, em partes iguais, a carga sustentada
pelo sistema entre os pontos de ancoragem. Para isso, devemos obedecer algumas regras:
• Escolha pontos preferencialmente alinhados (paralelos) entre si;
• O ângulo formado pela equalização deverá respeitar o limite de 90º,
evitando sobrecarga sobre os pontos de ancoragem;
• A equalização deverá ser sempre auto-ajustável; e
• Para proporcionar segurança em caso de falência de um dos pontos de
ancoragem, é necessária a confecção de um cote de segurança.
Pode ter a forma de V ou M sendo essencial que seja observado o ângulo máximo de
90º entre as linhas de ancoragem. Quanto maior o ângulo formado, maior a possibilidade da
ancoragem entrar em colapso, pois aumentará exponencialmente a sobrecarga nos pontos
de fixação, tendendo ao infinito.

“Back-up”
O termo “back-up” diz respeito a uma segunda segurança, que pode visar o ponto de
ancoragem ou o equipamento. É utilizado para garantir a segurança de todo o sistema.
Para realização do “back-up” como segundo ponto de ancoragem, algumas regras
devem ser observadas:
• Os pontos devem estar preferencialmente alinhados;
• O ponto secundário de ancoragem (“back-up”) não deve receber carga e
somente será utilizado em caso de falência do ponto principal;
• Não deverá haver folga entre os dois pontos de ancoragem, para evitar o
aumento da força de choque em caso de rompimento do ponto principal; e
• O “back-up” sempre deverá ser mais forte e resistente do que o principal.
Levando-se em conta as regras apresentadas, para que o “back-up” cumpra seu papel
com eficiência, podemos nos deparar com duas situações:
1. Ponto principal abaixo do ponto secundário (“back-up”); ou
2. Ponto principal acima do ponto secundário.
Formas de ancoragem
Ao realizarmos uma ancoragem, devemos optar por técnicas e materiais que nos
ofereçam as seguintes condições: rapidez, segurança, conservação do material. Ademais,
como visto no capítulo anterior, todo nó diminui a resistência da corda, por esta razão,
devemos adotar medidas para preservá-la. Para tanto, podemos utilizar os nós sem tensão
ou acessórios, como mosquetões, fitas, cordins e placas de ancoragem.
Nós sem tensão
O uso de nós sem tensão preserva integralmente a resistência da corda, uma vez que
a tensão é dissipada a cada volta. Efetue de quatro a cinco voltas redondas e um arremate
com volta do fiel ou oito duplo e mosquetão.
Utilização de fitas tubulares
A utilização de fitas torna mais prática e rápida a ancoragem. Envolva o objeto com a
fita, se possível, dobrando-a, mas evitando formar o nó boca de lobo. Jamais faça o nó ou
passe a corda diretamente pela fita, sob o risco de rompê-la, utilize um conector metálico.
Utilização de cordins
Quando falamos em “prussicar a corda” referimo-nos à aplicação de um par de cordins
fechados por um pescador duplo à corda, através de nós prussiks.
Aplique os cordins observando para que o maior deles fique à frente do menor, bem
como que ambos fiquem igualmente tensionados (desta forma dividindo a carga entre si),
inserindo-os no mosquetão de ancoragem.
Utilização de mosquetões
Os mosquetões devem ser utilizados fechados e travados, e os esforços aplicados ao
longo do dorso.
Montagem de ancoragem simples
Utilizando-se de mosquetão, cordins e fita tubular.
Improvisações
Os pontos ou dispositivos de ancoragem podem ser criados de forma criativa e segura
para suprir uma necessidade, através da construção deles ou da utilização de meios de
fortuna.
 Uso de escada portáteis
As escadas podem ser utilizadas em condições excepcionais para criação de pontos
de ancoragem, observando-se os seguintes cuidados: adotar medidas para sua
estabilização, dividir os esforços entre os banzos (ao invés de utilizar degraus), adotar um
“back-up”.
Ancoragem humana
Utilizando-se homens como ponto de ancoragem, adotam-se os princípios relativos à
equalização, devendo-se ainda observar o limite de carga e o posicionamento estável dos
homens que dividirão o esforço, a diminuição da silhueta e do ponto de gravidade dos
mesmos.
Meios de fortuna
Mobiliários e outros objetos podem ser utilizados como pontos de ancoragem em
situações extremas, devendo-se antes, porém, atentar para sua resistência física e robustez,
protegê-los adequadamente e adotar obrigatoriamente ancoragens adicionais de segurança
(back-up).


Próximo Capítulo  RAPEL



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